Não há uma forma certa ou errada de aderir ao veganismo; cada um deve fazê-lo da forma que seja mais confortável e mais sustentável para si. Mencionamos abaixo alguns dos métodos mais comuns, mas cada pessoa pode e deve trilhar o seu próprio caminho. O importante, neste caso, é o destino.
Seja qual for a opção escolhida, talvez não seja boa ideia passar diretamente de uma dieta convencional para aquilo que muitos meios de comunicação confundem com o veganismo: uma dieta ultra-saudável, light, biológica, orgânica, raw e outros adjetivos do género. Um corte tão radical com aquilo a que estamos habituados poderá causar uma sensação de privação, de sacrifício, que dificultará o percurso. E o veganismo não tem de acarretar privação nem sacrifício.
No início, o mais fácil será provavelmente focarmo-nos em ingredientes vegetais que já conhecemos e de que gostamos (spoiler alert: feijões e grãos passarão a ser os teus melhores amigos ;)) e introduzir alguns elementos que substituam os produtos de origem animal, seja a nível nutricional (mais informação aqui), funcional ou de paladar. Experimenta, por exemplo, “veganizar” alguns dos teus pratos favoritos! Durante um período de transição, é reconfortante poder contar com aquilo que nos é familiar.
Se calhar no início não saberás cozinhar muito bem os novos ingredientes, ou vais experimentar alguns de que não vais gostar, mas não deixes que isso te desanime: procura dicas de preparação na Internet, novas receitas, marcas diferentes; certamente acabarás por encontrar soluções que te agradem.
E se no futuro quiseres introduzir alimentos mais “exóticos” ou passar a cozinhar e comer de forma ainda mais saudável, será bem mais simples!
De um dia para o outro
Muitas pessoas que se tornam veganas decidem fazê-lo de um dia para o outro. Ao terem consciência do enorme sofrimento associado a cada produto de origem animal, fazem questão de deixar imediatamente de consumi-los. Em muitos casos, esses produtos passam a causar-lhes repulsa (nomeadamente aqueles em que a associação ao animal é mais óbvia, como a carne ou o peixe), pelo que preferem não consumir nem mesmo os que já têm em casa. Se é esse o teu caso, podes oferecer esses produtos para que não se desperdicem.
Quem não sente repulsa mas também pretende tornar-se vegano sem demora, pode consumir os produtos de origem animal que ainda tenha no frigorífico ou na despensa mas parar imediatamente de os comprar, deixando assim de contribuir financeiramente e de criar procura para produtos resultantes da exploração dos animais.
Esta é naturalmente a forma mais rápida de fazer a transição, pelo que é a nossa favorita; quanto mais cedo deixarmos de contribuir para o sofrimento dos animais, melhor! No entanto, deve ser feita com algum cuidado, sobretudo porque a dieta omnívora de muitas pessoas não é propriamente correta: bife com arroz, frango com batata, massa com almôndegas… Se a esses pratos simplesmente retirarmos a carne, ficaremos com uma alimentação ainda mais desequilibrada. O mesmo pode acontecer se, por conveniência, optarmos por fast-food vegana ou produtos ultraprocessados.
Por isso, sim: somos fãs da transição imediata, mas com informação e planeamento adequados. Informa-te sobre as características nutricionais dos alimentos vegetais e abandona os alimentos de origem animal de forma saudável e sustentável.
Primeiro em casa, depois em restaurantes
Algumas pessoas fazem a transição para o veganismo com facilidade em casa, onde podem escolher os ingredientes e cozinhar o que quiserem, mas continuam por algum tempo a comer produtos de origem animal fora de casa, sobretudo se tiverem de fazer refeições de trabalho ou com amigos em restaurantes sem opções veganas.
Para quem come pouco fora de casa, esta é uma boa ideia, pois significa que comerá vegetal na grande maioria das refeições. Além disso, à medida que mais e mais restaurantes vão oferecendo opções veganas, as exceções tornar-se-ão cada vez menos.
Contudo, é preciso não esquecer o objetivo, que é eliminar os produtos de origem animal (e o sofrimento e morte que implicam) da nossa dieta. Para tentares evitar locais sem opções veganas, usa o site e app Happy Cow (para já apenas disponível em inglês) para encontrar restaurantes e cafés veganos, vegetarianos e veg-friendly em qualquer parte do mundo e sugeri-los aos teus amigos ou colegas para as vossas próximas saídas ;)
Refeição a refeição
Outra forma bastante comum de aderir ao veganismo é ir veganizando cada refeição. Por exemplo, começar por fazer almoços veganos à Segunda, Quarta e Sexta; depois acrescentar a Terça e a Quinta; depois acrescentar alguns jantares; e assim por diante até que todas as refeições sejam veganas.
Esta opção tem a vantagem de se ir experimentando receitas veganas e explorando novos sabores antes de se fazer a transição a 100%. Contudo, é um método relativamente lento e corre o risco de ser interrompido ou adiado por comodismo, pelo que é recomendável fazer um cronograma e cumpri-lo.
Por tipo de produto
Há também quem opte por eliminar os diferentes produtos animais da sua alimentação um de cada vez: normalmente começa-se pela carne vermelha, depois a branca, depois o peixe, os ovos, o leite… A ordem varia, mas na nossa experiência um dos últimos produtos a eliminar tende a ser o queijo.
Não há nada de errado com esta abordagem, que proporciona mais tempo para encontrar substitutos adequados para cada uma das categorias que se vai eliminando. O ponto fraco, tal como no método refeição a refeição, é que é um processo lento, e corremos o risco de ficarmos acomodados num dos níveis e acabarmos por não continuar o caminho. Também aqui, o ideal é traçar um cronograma para a eliminação de cada um dos alimentos (por exemplo, um tipo de produto por semana) e fazer questão de o cumprir.
Devemos lembrar-nos sempre que o importante são os animais; cada dia, cada semana ou cada mês que passamos a consumir produtos de origem animal é um dia, uma semana ou um mês em que continuamos a patrocinar o seu sofrimento e morte. Por isso, sim, faz o teu caminho de forma a que a transição seja sustentável e não corras o risco de voltar atrás, mas nunca percas o foco no essencial.
Programas e desafios
Embora cada pessoa tenha a liberdade de definir a melhor estratégia para a sua própria transição, existem diversos programas e desafios que propõem um caminho pré-traçado, cuidadosamente desenhado para facilitar o processo. Participar de um desses programas é uma excelente opção para muitas pessoas, sobretudo pelo apoio que vai sendo facultado (receitas, esclarecimentos, etc.) e pela interação com uma comunidade de utilizadores que está a fazer (ou já fez) o mesmo percurso. Espreita a questão É possível obter apoio na minha transição para o veganismo? para mais informação e links.