E as plantas, não sentem dor?

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Não, as plantas não sentem dor. As plantas são seres vivos, reagem ao ambiente que as rodeia e têm características fascinantes, mas não sentem dor, pois não têm nervos nem cérebro.

Artigos com títulos sensacionalistas como “A ciência confirma: as plantas também sentem dor” ou “Estudos mostram que plantas ‘sentem dor’” referem-se simplesmente a essa capacidade de reagir a estímulos, que é significativamente diferente da experiência a que chamamos “dor”. Essa experiência de dor, que os seres humanos e outros animais sentem, as plantas são fisicamente incapazes de sentir. Nas palavras do botânico Lincoln Taiz, da Universidade da Califórnia, citado pelo New Yorker: “No brain, no pain” (“Sem cérebro, não há dor”).

Mas será que as plantas podem eventualmente sentir um tipo de dor completamente diferente do que nós sentimos? É possível, mas totalmente especulativo. De acordo com o que sabemos de biologia neste momento, nada aponta nesse sentido. Além de que, de um ponto de vista evolutivo, seria estranho que as plantas sentissem dor; de que lhes adiantaria, se não podem sequer locomover-se para fugirem de qualquer perigo?

Na verdade, esta questão sobre as plantas sentirem dor surge quase sempre no contexto de discussões sobre veganismo ou vegetarianismo, não como uma preocupação legítima pelo eventual bem-estar das plantas, mas como uma tentativa de desacreditar a ideia de que se deve evitar causar sofrimento aos animais - que, esses sim, garantidamente sentem dor. “De que adianta evitar matar animais, mas continuar a matar plantas?” é a questão implícita, por vezes colocada de má-fé, por pessoas que sabem muito bem que não há nada de semelhante entre cortar a relva ou maltratar um cão, e que estão apenas à procura de desculpas para se agarrarem ao velho hábito de consumir animais.

Mas há ainda mais um dado importante. Mesmo que as plantas sentissem dor - e, mais uma vez, tudo indica que não sentem - ser vegano continuaria a ser a escolha mais ética (mesmo sem considerar todos os outros benefícios), por ser muito mais eficiente. São necessários vários quilogramas de plantas para produzir um único quilograma de carne (por exemplo, para 1kg de carne de vaca são necessários 25kg de plantas), pelo que muito menos plantas “sofreriam” se nos alimentássemos directamente delas. Para já não falar na quantidade de plantas que anualmente são perdidas para o desmatamento, cujo principal causador é a pecuária, e que serão poupadas se adotarmos o veganismo.


As plantas são seres maravilhosos, que devemos tratar com respeito e temos obrigação de preservar, até pela nossa própria sobrevivência. Mas não são seres sencientes, e por isso não há qualquer dilema moral em nos alimentarmos delas, desde que de forma sustentável. É o próprio Stefano Mancuso, um dos mais relevantes botânicos da atualidade e autor dos famosos livros A Revolução das Plantas e A Nação das Plantas, quem o afirma ao jornal italiano La Repubblica: “Eticamente é sempre melhor comer plantas”.

Mais informações

[Foto do cordeiro Zacarias a comer plantas, na Quinta das Águias]

O Zacarias a comer plantas. Foto cedida pela Quinta das Águias.