Qual o impacto ambiental dos produtos de origem animal?

Partilhar

A resposta a esta questão já não deve ser surpresa para a maioria das pessoas: o impacto ambiental dos produtos de origem animal é enorme, muito maior do que o da maioria dos alimentos de origem vegetal, e manifesta-se de diversas formas.

Há três principais métricas habitualmente usadas para comparar o impacto ambiental de cada tipo de alimento: por quilograma, por quilocaloria ou por grama de proteína. Neste artigo, utilizamos a última, já que a proteína é o principal nutriente presente nos produtos de origem animal. Os gráficos são do Our World in Data.

Emissão de gases com efeito de estufa

Produzir 100g de proteína de carne de vaca gera quase 50kg de gases com efeito de estufa, enquanto a maioria dos produtos de origem vegetal gera abaixo de 3kg, com algumas das principais fontes de proteína numa dieta à base de plantas, como leguminosas (designadas no gráfico como “Other pulses”) e frutos secos, a gerarem abaixo de 1kg.

Emissões de gases com efeito de estufa por 100 gramas de proteína

Consumo de água

Neste particular, o queijo é o alimento mais problemático, com os frutos secos em segundo lugar. Ainda assim, vemos que a produção de camarão, leite, peixe, várias carnes - de porco, vaca, cordeiro e aves - e ovos consome bastante mais água do que as principais fontes vegetais de proteína: leguminosas e tofu.

Consumo de água doce por 100 gramas de proteína

Utilização do solo

A quantidade de terra necessária para produzir carne de vaca ou cordeiro chega a ser dezenas de vezes superior à necessária para produzir a mesma quantidade de proteína de leguminosas ou grãos - e sobretudo de tofu. São necessários 163,8m2 de terra para produzir 100g de proteína de carne de vaca, mas apenas 2,2m2 para produzir 100g de proteína de tofu.

Utilização do solo por 100 gramas de proteína

Eutrofização

A eutrofização de origem antropomórfica é uma forma de poluição da água causada por uma excessiva concentração de nutrientes, que leva ao desequilíbrio do ecossistema e à consequente degradação da qualidade da água.

Também neste critério os alimentos de origem animal são muito mais problemáticos, surgindo no topo da lista. A acompanhá-los estão o chocolate e o café, produtos que consumimos em quantidades relativamente pequenas e que não são ricos em proteína, pelo que são prejudicados pela métrica utilizada (ainda assim, são alimentos com elevado impacto ambiental e social, pelo que sugerimos limitar o seu consumo e optar por produtos de comércio justo).

Tal como nos outros gráficos, alimentos essenciais a uma alimentação vegetal - trigo, milho, tofu, ervilhas - são aqueles que menos contribuem para este tipo de poluição.

Emissões eutrofizantes por 100 gramas de proteína

Desflorestação

Um documento do Banco Mundial em 2004 anunciava que 91% da área desflorestada na Amazónia desde 1970 era usada para criação de bovinos. Desde então, o panorama não registou grandes melhoras, com notícias e estudos sobre desmatamento a confirmar continuamente (2014, 2016, 2018 2020) a sua ligação à produção de carne e à produção de soja para alimentar animais da indústria pecuária (não apenas bovinos mas também porcos e aves).

Quando se fala em desflorestação, muitas pessoas contrapõem que uma grande parte da área desflorestada serve para o cultivo de soja, o que é verdade. Mas o principal destino dessa soja não é fazer tofu ou leite de soja; é maioritariamente (77%) usada para alimentar animais da indústria pecuária, sobretudo aves (37%).

Gráfico sobre a utilização da soja

Esgotamento, destruição e poluição dos oceanos

Segundo a FAO, entre as populações de peixes acompanhadas regularmente, cerca de 30% encontram-se neste momento abaixo do nível biologicamente sustentável, o que significa que a sua reprodução não consegue compensar a quantidade que é pescada; dos restantes 70%, “os stocks totalmente explorados (ou seja, muito próximos do seu rendimento máximo sustentável) representam mais de 60 por cento, e os stocks sub-explorados cerca de 10 por cento”. Perante este cenário, a questão que se impõe é por que razão o preço do peixe não reflete essa escassez, mas a resposta é óbvia: subsídios. Por todo o mundo, os governos oferecem “apoios que promovem a pesca predatória ou pesca em excesso e ilegal que, de outra forma, não seria rentável” (National Geographic).

Além disso, algumas técnicas de pesca, tais como a pesca de arrasto, são atividades altamente destrutivas também por outras razões, já que matam animais que não tencionavam pescar, como golfinhos ou tartarugas, e destroem ecossistemas do fundo do mar, como por exemplo os recifes de corais.

Acresce a isso o facto da pesca industrial ser uma das grandes responsáveis pela poluição dos oceanos: mais de 85% do lixo de plástico no mar é material de pesca abandonado, incluindo redes onde todos os anos milhares de animais ficam presos, acabando por morrer. As palhinhas, que têm sido tratadas como um grande problema neste contexto, representam bem menos de 1% (mas ainda assim devem ser evitadas, tal como todo o plástico desnecessário).

Muitas destas questões são resolvidas com a substituição da pesca pela aquacultura, mas essa atividade, além de não ser viável para todas as espécies de peixes e animais marinhos usados na alimentação humana, também acarreta uma série de problemas ambientais. Como se pode ver nos gráficos acima (onde a aquacultura está representada como “Fish (farmed)”), a aquacultura tem uma pegada ecológica significativa no que toca à emissão de gases com efeito de estufa, ao consumo de água e à eutrofização. Os excrementos de uma quantidade tão grande de animais concentrada no mesmo local, os agentes infecciosos (como os piolhos do mar) e os pesticidas e antibióticos usados para combatê-los acabam por contaminar as águas circundantes, com efeitos devastadores para o ecossistema. Além disso, é frequente que alguns peixes consigam fugir da jaula da aquacultura, espalhando doenças e enfraquecendo a genética dos elementos selvagens da mesma espécie.

Conclusão

É hoje bastante claro que a produção de alimentos de origem animal tem uma pegada ambiental muito maior do que a produção de alimentos de origem vegetal. Em jeito de resumo, veja-se o seguinte gráfico retirado de um artigo da BBC, que compara as emissões, utilização do solo e consumo de água do leite de vaca com leites de arroz, soja, aveia e amêndoa:

Gráfico comparativo da pegada ambiental de diferentes tipos de leite


Por essa razão, é imperativo que todos aqueles que se preocupam com o ambiente abandonem (ou pelo menos reduzam significativamente) o consumo de carne e outros produtos de origem animal. Nas palavras de um especialista:

A dieta vegana é provavelmente a melhor forma de reduzir o seu impacto no planeta Terra, não apenas quanto aos gases com efeito de estufa, mas também à acidificação global, eutrofização, uso do solo e uso da água. É muito mais significativo do que diminuir as viagens de avião ou comprar um carro elétrico. Evitar o consumo de produtos de origem animal tem muitos mais benefícios para o ambiente do que tentar comprar carne e laticínios sustentáveis.”

Tradução livre de declarações de Joseph Poore, investigador da Universidade de Oxford e principal autor do estudo Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers, ao The Independent