Um vegano apoia grandes empresas quando estas lançam produtos 100% vegetais?

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Esta é uma grande discussão entre veganos; afinal, não somos um grupo monolítico que concorda em tudo. Concordamos que queremos acabar com a exploração dos animais, mas nem sempre concordamos sobre a melhor forma de lá chegar. Tratando-se de um objectivo tão ambicioso e ainda tão distante, é normal que as opiniões divirjam sobre qual o melhor caminho, e esta questão – apoiar ou não grandes empresas (que estão, na maioria das vezes, ligadas a uma série de práticas eticamente questionáveis) quando estas lançam produtos 100% vegetais e não testados em animais – está no cerne da discussão.

Ou seja: não há uma resposta certa ou errada. Enquanto vegano, tu é que deves decidir se queres ou não apoiar essas empresas, e de que forma. Por exemplo, podes apoiá-las divulgando os produtos veganos e congratulando a empresa por lançá-los, mas preferir consumir produtos de empresas mais alinhadas com os teus princípios. Ou podes optar por consumir esses produtos. Ou nenhuma das duas. A escolha é tua.

Apresentamos abaixo um breve resumo, que pretendemos justo, das duas principais correntes, a que habitualmente chamamos “veganismo estratégico” (ou “pragmático”) e “veganismo popular” (ou “político”). Para mais informação, clica nas links que deixamos no final de cada resumo. No entanto, é importante afirmar que é muito mais o que nos une do que o que nos separa: o nosso objetivo comum é a libertação animal. Discordâncias são normais e saudáveis entre pessoas que pensam pela própria cabeça.

Veganismo estratégico ou pragmático

O veganismo estratégico defende que sim: que quando uma empresa lança um produto 100% vegetal e não testado em animais devemos demonstrar o nosso apoio, para que essa e outras empresas vejam que o produto tem sucesso e venham a lançar cada vez mais produtos semelhantes, tornando cada vez mais fácil a transição para o veganismo de mais e mais pessoas. Segundo o veganismo estratégico, empresas como o Burger King ou o McDonald’s não fazem questão de vender carne - fazem questão de ganhar dinheiro; por isso, à medida que a procura por produtos veganos aumente em relação à procura de carne, essas empresas ajustarão a sua oferta no mesmo sentido, tornando os produtos 100% vegetais cada vez mais omnipresentes e económicos. A ideia é alimentar um ciclo virtuoso: maior oferta de produtos veganos levará a maior facilidade em aderir ao veganismo e a uma redução no preço desses produtos devido à economia de escala, o que por sua vez aumentará a procura por produtos veganos, o que levará a um crescimento ainda maior da oferta e assim sucessivamente. O objectivo é que, num futuro não muito longínquo, o aumento do consumo de produtos vegetais torne a carne cada vez mais um produto raro e caro, trazendo à maioria da população um distanciamento que permita finalmente avaliar a moralidade do seu consumo de forma imparcial, como hoje já acontece com outras formas de exploração animal, como as peles ou a tauromaquia, a que a maioria da população já se opõe.

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Veganismo popular ou político

O veganismo popular defende que não: que grandes empresas que vivem de exploração animal, e sobre as quais muitas vezes pendem também acusações bem documentadas de crimes ambientais e violações de direitos humanos, não devem nunca ser apoiadas. Ao lançar um produto vegano essas empresas pretendem, por um lado, lucrar com uma parcela da população a que não chegavam (os veganos) e, por outro, passar uma falsa imagem progressista e de preocupação com os animais, a que se dá o nome de “veganwashing”, por analogia com os mais conhecidos greenwashing e pinkwashing. Ao darmos o nosso apoio e o nosso dinheiro a essas empresas, estamos a pontenciar o veganwashing e a fortalecer as próprias empresas, ajudando a que continuem a exploração e o abuso de animais, da natureza e/ou de seres humanos que sustentam a sua atividade. Quem tem esta posição normalmente defende que a luta pela libertação animal é necessariamente uma luta anticapitalista e que é ingénuo acreditar que a libertação animal seja possível num sistema que é por defeito baseado na exploração – quer de animais, quer do ambiente, quer das pessoas.

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