Mas nem peixe?

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Isso mesmo, nem peixe!

Apesar de serem mais diferentes de nós do que os porcos, as vacas ou mesmo as aves, os peixes são seres sencientes, pelo que não devemos provocar-lhes sofrimento desnecessariamente - e o peixe, tal como a carne ou qualquer outro produto de origem animal, não é necessário para uma alimentação saudável.

Para quem possa ainda ter dúvidas de que os peixes sentem dor, o artigo It’s Official: Fish Feel Pain (É oficial: os peixes sentem dor), publicado em 2018 na Smithsonian Magazine, é bastante elucidativo. Traduzimos abaixo os trechos mais relevantes:

A nível anatómico, os peixes têm neurónios conhecidos como nociceptores, que detetam potenciais perigos, como temperaturas altas, pressão intensa e químicos cáusticos. Os peixes produzem os mesmos opióides - os analgésicos naturais do corpo - que os mamíferos. E a sua atividade cerebral durante uma lesão é análoga à dos vertebrados terrestres: espetar um alfinete num peixinho dourado ou numa truta arco-íris, por trás das suas guelras, estimula os nociceptores e causa uma cascata de atividade elétrica através das regiões do cérebro que são essenciais à perceção sensorial consciente (tais como o cerebelo, o tectum e o telencéfalo), não apenas do rombencéfalo e do tronco encefálico, que são responsáveis por reflexos e impulsos. (...)

A evidência coletiva é hoje suficientemente robusta para que os biólogos e veterinários cada vez mais aceitem a dor dos peixes como uma realidade. (...) Em 2013, a Associação Americana de Medicina Veterinária publicou novas diretrizes para a eutanásia de animais, que incluíam a seguinte afirmação: 'Sugestões de que as respostas dos peixes à dor representam meros reflexos foram refutadas. (...) A maioria das evidências acumuladas sustenta a posição de que os peixes devem ser alvo das mesmas considerações que os vertebrados terrestres no que toca ao alívio da dor.'

No entanto, este consenso científico ainda não chegou à perceção pública. Procure 'os peixes sentem dor' no Google e mergulhará num mar de mensagens contraditórias. Não, diz um artigo. Sim, diz outro. Outras fontes afirmam que há um debate complexo entre cientistas. Na verdade, esse nível de ambiguidade e desacordo já não existe na comunidade científica.”

Tradução livre de trechos do artigo It’s Official: Fish Feel Pain, da Smithsonian Magazine

Os biliões de peixes utilizados anualmente na alimentação humana morrem quase exclusivamente de forma lenta e dolorosa. Ou por asfixia após serem trazidos para a superfície (um processo que pode demorar várias horas e durante o qual os peixes em pânico se contorcem de tal forma que chegam a sofrer ruturas musculares), ou esmagados contra outros peixes em enormes redes de pesca, ou congelados após a captura, ou ao serem eviscerados vivos, ou após sangrarem por horas ou dias presos a um anzol na pesca à linha industrial. E o horror é transversal à pesca e à aquacultura, como demonstram estes vídeos da Animal Equality Brasil e da Mercy for Animals Brasil (podem ser chocantes).

Apesar de todas as atrocidades que cometemos contra os animais terrestres, o que fazemos aos peixes é particularmente cruel. Mas ainda que fôssemos mais gentis, a verdade é que não existe uma forma ética de matar um indivíduo que não quer morrer. Por isso, não: nem peixe.

Outros animais aquáticos

Dada a enorme variedade de animais aquáticos (vertebrados e invertebrados), a quantidade de estudos realizados e o grau de consenso da comunidade científica sobre se determinado tipo de animal é ou não senciente são bastante variáveis. No entanto, é preciso lembrar que ausência de evidências não significa evidência de ausência, e o facto de que estes animais têm neurónios (ao contrário, por exemplo, das plantas) leva a que exista uma probabilidade significativa de que se venha a concluir sobre eles o mesmo que se concluiu sobre os peixes. Na dúvida, o melhor é jogar pelo seguro e deixá-los em paz, já que podemos escolher entre tantos alimentos saudáveis, nutritivos, saborosos e que definitivamente não sofrem.

Mais informações

[Foto de um peixe-gato]

Foto de Will Turner no Unsplash.