Porque não ser apenas vegetariano, se não matamos os animais para obter ovos e laticínios?

Partilhar

Como indicamos aqui, neste site não temos muito conteúdo a expor a crueldade a que são submetidos os animais nas várias indústrias que os exploram, pois julgamos que a maioria das pessoas tem uma noção mais ou menos concreta dessa realidade atroz. No entanto, quando falamos de produtos que não implicam diretamente a morte dos animais - sendo os ovos e os lacticínios os mais comuns desses produtos - vemos que há ainda muitos equívocos e falta de informação, já que muitas pessoas pensam que não há qualquer problema ético nessas indústrias, que os animais são “bem tratados” e vivem uma boa vida enquanto nos vão “oferecendo” aquilo que produzem. Infelizmente, essa perceção não poderia estar mais longe da realidade.

Antes de mais, devemos esclarecer que não é verdade que não matemos animais para obter ovos e leite; essas indústrias matam literalmente milhões de animais por ano. Não as galinhas e as vacas (pelo menos, não imediatamente), mas os “subprodutos indesejados”: os machos. Embora, se soubessem como seria a sua vida inteira, muitas galinhas e vacas fêmeas talvez preferissem a curta existência e bárbara morte dos seus irmãos.

Ovos

As galinhas poedeiras de aviário vivem cerca de dois anos (a esperança de vida normal de uma galinha pode chegar a 12 ou mais). Para manter a indústria a funcionar à medida que os pobres corpos mutilados destes animais se vão degradando até não conseguirem dar mais, é preciso fazer nascer constantemente mais e mais animais que os substituam na linha de produção. Mas não há como garantir que nasçam só fêmeas; no processo de reprodução de galinhas poedeiras nascem tantas fêmeas como machos, e estes últimos são totalmente descartáveis - não servem sequer para carne, já que as galinhas usadas nas indústrias dos ovos e da carne foram sendo alvo de uma seleção artificial que as tornou completamente diferentes, mas igualmente deformadas. A solução? Matar os pintainhos aos primeiros dias de vida, sendo que o método preferencial é a trituração. Se te parece horrível demais para ser verdade, vê este vídeo (atenção: pode ser chocante).

Quanto às fêmeas, vivem toda a sua vida amontoadas em gaiolas ou em galpões onde cada uma dispõe em média do espaço de uma folha A4, que não é sequer suficiente para abrir as asas ou exibir quaisquer dos seus comportamentos naturais. Para que o stress dessa vida miserável não as leve a causarem dano a si mesmas ou a outras galinhas, o seu bico é-lhes cortado sem anestesia nos primeiros dias de vida (vídeo - pode ser chocante). Põem cerca de 250 ovos por ano, o que tem consequências gravíssimas para os seus corpos; os seus ascendentes selvagens (a espécie Gallus gallus, da qual a galinha doméstica é uma subespécie) põem apenas 10 a 15 (fonte: Humane Society International). Para conseguir tal produtividade, além da seleção artificial mencionada acima, as galinhas poedeiras são também sujeitas a um processo designado como “muda induzida”, que, entre outras técnicas, inclui jejum forçado por mais de uma semana. Mesmo rótulos como “galinhas criadas livres”, “galinhas criadas ao ar livre” e outros do género não são qualquer garantia de bem-estar; apenas significam que em vez de gaiolas as galinhas vivem em galpões com uma porta para o exterior, sendo que todos os outros problemas, incluindo a matança de pintainhos, se mantêm.

Leite

Na indústria dos laticínios a história é parecida. Como qualquer mamífero, as vacas não produzem leite de forma permanente; produzem-no depois de terem estado grávidas, para alimentar os seus bebés. Logo, para maximizar a produção, as vacas são submetidas a uma série de gravidezes consecutivas, que começam num processo de inseminação artificial que frequentemente resulta em ferimentos internos ou externos. Após nove meses de gravidez, quando nasce o bebé para quem o leite será produzido, se for fêmea está destinada à mesma vida, se for macho arrancam-no da sua mãe e encaminham-no para a indústria da carne de vitelo. Uma separação que causa uma dor imensa a mãe e filho, como demonstrado em tantos vídeos (como este ou este) em que as vacas seguem os veículos que levam embora o seu bebé ou choram até perder a voz. É de partir o coração.

Para lhes retirarmos o leite, usamos dispositivos de ordenha mecânica duas a quatro vezes por dia, gerando feridas e infeções no úbere. Até que a sua produção diminui e voltam a ser inseminadas para recomeçar todo o ciclo. Ao fim de cinco ou seis vezes, os seus corpos já não aguentam e são enviadas para o matadouro. Mas a sua dor ainda não acaba aí; como já estão “gastas” e praticamente sem valor, são frequentemente usadas no próprio dia da morte como modelos de treino para inseminadores, sendo depois transformadas em comida para animais.

A maioria destas práticas é transversal à indústria do leite, mesmo aos produtores que tentam passar a imagem de que as suas vacas são “felizes”. Não existem vacas felizes nesta indústria de gravidezes forçadas, separação de mães e filhos, exploração diária e morte.

Outros produtos

Outros produtos que não implicam necessariamente a morte dos animais são igualmente problemáticos. Um desses exemplos é o mel. Após polinizarem milhares de flores para produzirem mel para seu próprio consumo, as abelhas vêm-no ser roubado por um ser humano, que o substitui por um produto sintético de valor nutricional inferior. Várias abelhas morrem nesse processo, ao tentar defender o néctar do apicultor. Além disso, para se tornar mais rentável, a indústria faz uso de diversas práticas eticamente reprováveis, como cortar as asas da abelha rainha para impedir que fuja, ou destruir a colmeia em alturas de pouca produção. Como se não bastasse tudo isso, a seleção artificial conduzida para que as abelhas produzam mais mel está a enfraquecer as populações, com todas as consequências ambientais que daí advêm.

Outro exemplo é a lã, que é retirada de animais seletivamente reproduzidos para produzirem muito mais pêlo do que o seu corpo consegue aguentar, o que pode até levar a um sobreaquecimento fatal nos meses quentes. Na indústria da lã, os animais são sujeitos ao corte da cauda, castração e outras mutilações sem anestesia, e a tosquia é frequentemente realizada de forma violenta e descuidada, causando cortes e feridas graves, ou até mesmo a morte. Este vídeo (pode ser chocante) é esclarecedor.

Costuma dizer-se que as ovelhas precisam de ser tosquiadas e que as vacas precisam de ser ordenhadas, e isso é verdade, mas apenas porque a ação humana levou a que produzam muito mais lã/leite do que seria natural para o seu corpo. O ideal será inverter esse processo, mas enquanto isso não acontece devemos, sim, tosquiar ou ordenhar esses animais - por compaixão, não por lucro. Sempre que o objetivo é o lucro, os animais são tratados como meios para um fim, e a maximização da rentabilidade será sempre colocada acima dos seus interesses e do seu bem-estar. Daí que seja importante boicotar todos os tipos de exploração.

Mais informações

O que descrevemos acima é apenas um curto resumo do que se passa nestas indústrias; para saberes mais, podes consultar as fontes abaixo. Mas esperamos que tenha sido suficiente para demonstrar que não, ser vegetariano não chega, já que indústrias que supostamente não matam animais causam tanto ou mais sofrimento e morte do que a da carne e a da pesca. Cada euro gasto nesse tipo de produtos é um euro que vai financiar crueldade atroz para com seres que sentem.

[Foto de Brianna e da sua bebé Winter]

Brianna e a sua bebé Winter. Em Dezembro de 2018, Brianna saltou do camião que a levava, grávida, para o matadouro, após uma vida de exploração na indústria do leite. Foi resgatada pelo Skylands Animal Sanctuary & Rescue, deu à luz Winter poucos dias depois, e pôde finalmente ser mãe, pois pela primeira vez na vida a sua bebé não lhe foi retirada. Foto de NJ.com.